18.11.14

O Aleijadinho na Região do Rio das Mortes






Antônio Francisco Lisboa, dito o Aleijadinho (1738-1814), passou grande parte de sua vida em Vila Rica, onde nasceu e morreu, mas, em alguns períodos, viajou a outras vilas e arraiais mineiros para executar obras ou apenas fazer louvações. Assim sendo, trabalhou em Mariana, Sabará, Morro Grande, Congonhas, Fazenda da Jaguara e São João del Rei.

O primeiro biógrafo do artista, Rodrigo José Ferreira Bretas (1814-1866) cita em seu trabalho, publicado no “Correio Oficial” de Minas, em 1858, que “O Aleijadinho exerceu sua arte nas Capelas de São Francisco de Assis, de Nossa Senhora do Carmo e das Almas, desta cidade [Ouro Preto] e Capela de São Francisco de Assis de São João del Rei...” e ainda que “há quem afirme que é em Congonhas do Campo, e em São João del Rei que se devem procurar as obras primas fazendo especial menção da magnífica planta da Capela de São Francisco daquela cidade e do bem acabado da escultura e talha do respectivo frontispício”. Portanto, desde meados do século XIX já se tinha conhecimento de que Antônio Francisco Lisboa havia trabalhado pelo menos na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de São João del Rei.




Embora toda a documentação contábil da Ordem Terceira Franciscana tenha desaparecido, resta-nos o livro de termos, ou seja, de atas da ordem, onde a certa altura (1774) aparece o assunto do projeto para uma nova igreja, e diz que “foi visto o risco que se tinha mandando fazer a Vila Rica”. Em 1785, quando se pensa em “riscos” complementares aparece “o sobredito risco que serve de suplemento ao de Antônio Martins”, o que foi rasurado para Antônio Francisco Lisboa. Esta ata citada já deu muita discussão, porque originalmente o nome era Antônio Martins e foi rasurada para Francisco Lisboa, com letra de época e, certamente, feita por alguém presente a reunião. Posteriormente, se mandou encomendar ao mesmo artífice o “risco” para o retábulo do altar-mor. Ambos os projetos foram alterados na execução, o arquitetônico, por Francisco de Lima Cerqueira, mestre de obra português, que iniciou a construção da capela; e o artístico, por Luiz Pinheiro de Souza, entalhador responsável pela execução do retábulo.


Livro de receitas e despesas no qual consta o pagamento ao Mestre
Aleijadinho. Documento, hoje, sob a responsabilidade da diocese.


Mas o certo é que Antônio Francisco deixou sua marca inconfundível não só na traça da igreja, mas no projeto dos retábulos colatareais, em imagens de santos, principalmente, na magnífica portada de pedra sabão que rivaliza com a sua congênere de Vila Rica.

Do projeto original para São Francisco, localizado na década de 1940, no Rio de Janeiro, pouco se aproveitou, pois Lima Cerqueira arredondou as torres quadrangulares, eliminou os corpos laterais, arredondou a nave, além de outros detalhes. Mas lá no projeto está o esboço da bela portada e a escultura da empena. As torres do projeto foram, possivelmente, reutilizadas no projeto de 1809/10 para a Matriz de Santo Antônio da Antiga Vila de São José, hoje Tiradentes.

Na bela igreja rococó de São João del Rei, vamos encontrar os traços do Aleijadinho na portada executada lá pela década de 1780, onde os serafins sobre quartelões, as armas da ordem e imagem da Virgem Maria, assim como rocalhas, acantos e flores que saíram das mãos do Mestre, secundado por ajudantes que executaram trabalhos menores, como cabeças de anjos de pouco destaque.


       

Os dois retábulos colaterais que se não saíam de suas mãos, apresenta inconfundível afinidade com seu estilo, quando não seja pelas colunas entortadas no terço inferior, como em São Francisco de Ouro Preto. Antônio Francisco foi o único artista colonial a usar esse recurso. Os anjos e querubins, quando não seja de sua lavra, são ajudantes muito próximos, seja pelo modelado vigoroso dos corpos, seja pelos olhos amendoados e repuxados, seja pela mecha em rocalha sobre a fronte. No altar de São Pedro de Alcântara, a excelente talha da porta do falso sacrário pode-se-lhe ser atribuída, com pouca sombra de dúvida. Nos esquecemos de citar a emocionante aparição da face do Divino Salvador, no intradorso da chave da verga da portada, sereno e ao mesmo tempo trágico a olhar os fieis que adentram no templo. Esta é, sem dúvida, uma das mais emocionantes mais faces de Cristo criadas em pedra sabão, na segunda metade do setecentos.

Ainda se pode ver algum traço magistral do coroamento do retábulo-mor executado por Luiz Pinheiro, especificamente na figura majestática de Cristo em esplendor. Lê-se, ainda, a chama de seu gênio na escultura da empena, por ele projetada, na execução tardia de Aniceto de Souza Lopes. Ainda para o Terceiros Franciscanos executou a pequena e forte imagem do evangelista São João, pronta antes do seu nicho, pois ele foi criado para ela com seu símbolo iconográfico: a águia. Outras imagens, por nós identificadas ultimamente (O Aleijadinho e sua oficina, 2002), como o Santo Antônio e São Gonçalo do Amarante que só de perto só de perto revela a força criadora do Mestre.





No tempo em que trabalhava na Capela de São Francisco, o Aleijadinho faz pequenas esculturas inacabadas, protótipos de santos franciscanos, encontrados no mercado de São João del Rei, em 1957, por Jair Afonso Inácio. Duas delas fazem parte do acervo do Museu Regional do IBRAM e outras duas foram para coleção particular. Nas diminutas esculturas inacabadas vê-se a centelha criadora do mestre.

Para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar executou apenas uma cabeça de Cristo da Prisão, antes relegada as velhas tribunas da igreja é hoje colocado no trono, durante os ofícios de trevas. Desta escultura, apenas a cabeça faz jus a obra do Mestre, pois o corpo canhestramente executado não tem destreza ou maestria. Atualmente, a peça se encontra exposta no Museu de Arte Sacra.





Resta-nos, agora, citar a graciosa portada rococó da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, parcialmente executada pelo Mestre. Parece que executada a parte central, com as armas da ordem, dois querubins, o medalhão da Virgem e comovente Pai Eterno, ficou muito tempo desmontado e só foi instalada no século XIX. Para isso, encomendou-se três cabeças de querubins sorridentes e outros detalhes a outro artista, ainda não identificado. Para se ver com olhar crítico esta escultural monumental, é preciso abstrair a parte inferior e centrar a vista na Virgem e, depois, divagar pelo Pai Eterno e pelos dois querubins com escapulários. O Pai Eterno lembra o profeta Naum de Congonhas.





Após sua passagem luminosa por São João del Rei, na década de 1780, ele ainda executa o grandioso retábulo da Capela de São Francisco de Ouro Preto e o conjunto de Passos e profetas de Congonhas.

Já no fim da vida, acerta a encomenda do projeto de uma nova fachada para a Matriz de São José del Rei. Isto se dá em 1809, quando a velha fachada já estava em parte desmontada. Cansado e alquebrado pela doença, volta ao antigo projeto de 1774, para a igreja franciscana de São João del Rei. O “risco” teve que se adaptar a largura e altura definida da velha igreja. Usou ele a mesma solução das torres quadradas, projetadas para São João del Rei e não executadas, com seus relógios e o frontão recortado, com fogaréus à moda italiana.


               


A portada já não mais saiu da mão do Mestre, mas de outro artista rococó, Salvador de Oliveira. Mas pode-se ver no perfil delicadamente rococó das torres, com seus cunhais de chanfro, na elegante curvatura do frontão, nas rocalhas se espraiando sobre a parede, a marca do estilo aleijadiano, embora a execução em massa, em lugar de pedra, tenha diminuído o impacto desta decoração. Para além das conjecturas, o documento, junto com o de Sabará, são as duas únicas referências que o nomeia pelo apelido famoso de “Aleijadinho”.

Se a Matriz de São João Batista do Morro Grande teria sido sua primeira traça arquitetônica, ainda contida, a Matriz de Santo Antônio da Vila de São José terá sido sua última manifestação em termos de intervenção arquitetônica, curiosamente, ambas reduzidas ao frontispício, como se a confirmar os versos de Carlos Drummond de Andrade:

“Não entrarei, senhor, no templo, Seu frontispício me basta”



Texto de Olinto Rodrigues dos Santos Filho
Fotografias de David I. Nascimento
  



11.11.14

Agostinho Ferreira




Agostinho  na Prataria da Matriz, 1977.


Conheci o Agostinho Preto na minha infância. Ele nasceu no dia 5 de maio, mesmo dia do aniversário da minha mãe, só que ele nasceu 25 anos antes, em 1900. Sempre foi empregado da prefeitura, diga-se que, antes de haver a prefeitura, ele era empregado da Câmara e a sua primeira função, aos 18 ou 20 anos, era acender os lampiões de querosene das ruas.  Ia na frente o João Nepomuceno, o “Tiojoão” colocando querosene nos recipientes e o Agostinho ia atrás com uma vara com estopa na ponta incandescente a ascender os lampiões. Eram apenas 24, da matriz até na esquina do sobrado do Chiquinho Fonseca, atual prefeitura. Em 1923, inaugurou-se a luz elétrica e acabou a função do Agostinho e ele virou um operário qualquer. Não mais era mensageiro da luz. Casou-se com a Zina (Flausina)  e não teve filhos, seus filhos eram os sobrinhos, que os chamavam de “Zé”.

Foi fiel ao “sô” Joaquim Ramalho a vida toda, mesmo quando a Orquestra se partiu em duas, em 1922, por causa de uma briga na campanha política da eleição de presidente, em que o Antônio de Pádua Falcão, na oposição, abriu uma orquestra dissidente. Agostinho trocava tromba ou “baixo” na banda do Ramalho e cantava no naipe “Baixo” no Coro da Orquestra Ramalho. Tinha vozeirão no solo da Ladainha do Padre Zé Maria, no setenário das Dores. Aliás, contava-se que o Padre Zé Maria era compadre do meu trisavô, José Luiz Ramalho e compunha por encomenda, como a novena de São João Evangelista, que ele escreveu e só veio ouvir na igreja, escondido na sacristia.


Foto do filme "Proezas de Satanás na Vila do Leva e Traz", 1967.


Mas, voltando ao Agostinho, terror das crianças que subiam ao coro e que ele expulsava com a indicação da porta e a palavra imperativa “desce”, e todos sumiam pela escada abaixo do coro da Matriz. Mas se o encontrasse na rua, o bolso do seu paletó era repleto de balas para todas as crianças. Se faltasse tenor, ele resolvia a situação fazendo a parte de tenor, e cantava meio dançando com um pé no banco do coro, marcando o compasso.

Não me lembro dele trabalhando na prefeitura, já o conheci aposentado e “dono” de todas as igrejas de Tiradentes. Ele se desdobrava em cuidar da matriz como sacristão e guardião. Tocava o sino da entrada para as missas, arranjava os paramentos sobre o arcás, aviava o altar com cálice, vinho, hóstia, campainha, capa de asperges, matraca e todo o necessário. Acendia as velas e corria para o coro, para cantar. Tinha as chaves da Matriz, do Rosário, da Trindade e da prataria, onde não deixava ninguém entrar. Ele ia lá, buscava os castiçais de prata e nós carregávamos da porta para fora. Foi uma honra quando, lá por 1975, ele me deixou entrar para ver a prataria. Por ironia, após sua morte, a chave me foi entregue e a repassei ao Joaquinzinho Ramalho, que certamente era mais responsável que eu.

Na sua casa da Rua Direita, 37, havia uma Cruz processional de latão e uma mala de papelão duro, onde havia paramentos, cálice, patena, galheta, hóstia, vinho e paninhos de altar para qualquer missa ou procissão fora da matriz ou nas capelas rurais. Tudo sempre pronto. Agostinho era acima do padre, do Dom Delfim, das irmandades, sua autoridade determinava, era maior. Na festa da Trindade ele se mudava para uma casinha de quatro cômodos que fez na praça, só para ficar perto “da minha mãe de braços abertos” ao que eu retrucava perguntando “se minha mãe era barbuda”, e ele estava referindo-se ao Pai Eterno.

Coro Paroquial, 1951.

Na festa da Trindade, íamos no primeiro dia da novena, ornamentar a igreja. Eu acompanhava a Regina Conceição e a Dalzira Moura Campos e lá ficávamos o dia inteiro. O Agostinha chegava com duas garrafas térmicas de café e sacolas de biscoitos feitos pela Zina e era o nosso almoço, como o era quando montávamos a Matriz para a Quinta-feira Santa. As vezes, brigávamos muito, porque eu colocava as velas tortas na banqueta da Matriz ou porquê ele queria bater pregos na talha dourada.
As igrejas eram sua casa e ele dava conta de tudo, Festa do Rosário, missa no São Francisco, no Canjica, tesoureiro das Mercês e Zelador da Trindade.

Ele não bebia, eu nunca o vi beber, mas sempre perguntava “menino, tem dinheiro pra tomar uma cerveja?”, logo enfiando a mão no bolso de baixo do paletó para nos “emprestar” um trocado. Estava na igreja desde os tempos do “sô vigário”, ou seja, do Padre José Bernardino. Em 1932, já aparece como “armador” na Semana Santa.  Certa vez, ele nos fez dormir no coro da Matriz, pois achava que poderia aparecer um ladrão. Imagine o que nós faríamos se houvesse realmente um assalto.

Andava sempre vestido com um surrado paletó escuro e calçado de sandálias franciscanas por causa dos calos. Era filho de “Sá Chica Ferreira” e não me lembro o nome de seu pai, mas sei que ele fez as jarras de cerâmica vidrada que havia em todas as igrejas. Hoje temos algumas recolhidas no Museu da Liturgia. Me esqueci de dizer que ele sempre usava um chapéu velho de lebre. Agostinho conhecia cada peça, cada cálice, cada imagem, cada castiçal, cada toalha de todas as igrejas e falava “esse missal não é daqui, é do Gaspar ou do Bichinho”.

Cartão postal, déc. 70, com Agostinho descendo a rua.

Entre muitas funções, ele vestiu por 50 anos a imagem do Senhor dos Passos, sempre trancado na sacristia para que os meninos não vissem, nem olhassem no buraco da fechadura, pois nossa curiosidade era imensa.  Quando, em 1980, ele adoeceu, mandou me chamar na casa dele. Ele estava sentado em uma cadeira no quintal cheio de galinhas. Já cuspia sangue. Me ordenou: “vai trocar a roupa do Senhor dos Passos, porquê eu não posso”. Ao que recusei: “o senhor nunca me deixou fazê-lo, não sei”. Aí, ele me disse: “Sabe sim, é necessidade, não se esqueça de vestir três camisas e dar o nó do cordão direito, o Nogueira sabe”. E essa função foi minha por mais de 20 anos, até que abandonei, com desentendimentos paroquiais. Mas, se o fiz por muitos anos, foi por determinação do Agostinho, eu não podia desobedecer.

No fim, já internado na Santa Casa de São João del Rei, eu passava para vê-lo quando eu ia para a escola e ele me dizia que Nossa Senhora das Mercês já o estava chamando e mandou que fôssemos a sua casa buscar as coisas da Igreja, o que fizemos com Joaquinzinho Ramalho, Antônio Nogueira e Padre Nacif. 
Procissão da Santíssima Trindade, 1968. Foto de Maria J. Moura.

Como uma última nota, eu estava organizando uma exposição, “Um Século de Fotografias em Tiradentes”, que iria abrir em janeiro de 1981, e escolhi algumas fotos que Agostinho tinha na parede. Ele me disse “se eu já tiver morrido, você entra e tira da parede, os retratos são seus”. Uma destas das fotos, a dos acólitos, de 1925, inclui no meu livro “A Matriz de Santo Antônio em Tiradentes”. E mais os “quadros de santos” da sala, me disse “ele são seus”. Após sua morte, Lili, sua filha adotiva, me mandou entregá-los e ainda hoje estão na parede de meu quarto.

Na missa de corpo presente, executou-se a Missa de Requem do Padre Zé Maria Xavier e o “seu” Domingos, já falecido, cantou tão emocionado um solo do “De Profundis” que a voz ficou embargada e as lágrimas corriam no seu rosto de quase 80 anos. Seu Domingos era o outro baixo do coro, e era da Lira Sanjoanense, mas vinha sempre reforçar a Ramalho.

Agostinho em foto de Fernando Pitta, déc. de 80.

Por fim, o Agostinho, da maneira dele, as vezes suaves, as vezes “mandona”, ditatorial, nos ensinou a defender, a amar, valorizar nosso patrimônio religioso, seja o material, defendido com unhas e dentes por ele, seja o imaterial, cantando durante quase 60 anos no coro da orquestra ou tocando seu “baixo” na banda. De onde ele está, sei que olha por todas as igrejas de Tiradentes e por nós, que não fizemos nada perto do que ele fez. Viva o Agostinho.

Texto do Sócio Olinto Rodrigues dos Santos Filho

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Obs.: Foi o Agostinho que me ensinou que “entrada de missa” toca-se 100 badaladas e se for vigário toca-se mais 3 e se for padre de fora toca-se mais 8 badaladas. 

Os primeiros registros civis de Tiradentes


Como é de conhecimento geral, até o final do segundo reinado do Brasil, os registros de nascimento, óbito e casamento eram feitos apenas pela igreja católica, onde eram celebrados os atos de batismo, casamento e sepultamento de toda a população. Proclamada a república, a religião católica deixou de ser a religião oficial do país e os registros passavam oficialmente a serem feitos nos cartórios de registro civil  e notas.

O primeiro registro de nascimento anotado no livro número 1 aberto para esse fim foi o de Silvestre, filho de José Luiz Ramalho, maestro da atual Orquestra Ramalho. O curioso é que o pai foi declarante e não aparece o nome da mãe, que era Josefina Ferreira Barbosa Ramalho. Também não aparece o nome completo, que deveria ser Silvestre Ramalho, que herdou o prenome do avô, Silvestre Ferreira Barbosa, pai de Josefina Ferreira Barbosa. Consta, ainda, a margem, uma anotação que diz que a criança foi batizada na casa do vigário João José de Faria, sendo o padre também padrinho e a madrinha a irmã do recém nascido, Maria da Conceição das Mercês, que depois casou-se com Abdias de Faria. A criança foi registra no dia 31 de dezembro de 1888, curiosamente, antes da proclamação da república, e batizada em 2 de janeiro de 1889. Parece que esta criança morreu em tenra idade, pois nos chegou notícias apenas de três filhos homens de José Luiz e “Dona Josefa”, ou seja: Joaquim Ramalho, João Evangelista Ramalho e Francisco de Paula Ramalho.




O primeiro registro de casamento do livro 1, folha 1, do livro próprio, é de José Luiz do Nascimento e Rita Balbina de Santana. Ele era filho de José Moreira Simões e de Justiniana Ferreira de Jesus. Ela era filha de Joaquim Tume de Santana e Francisca Maria da Conceição. Casaram-se em 4 de fevereiro de 1889. Não temos mais notícias desse casal que inaugurou o casamento civil na cidade de São José del Rei, logo depois nomeada Tiradentes.






O primeiro registro de óbito é de Jerônimo, filho, provavelmente, natural de Maria do Rosário, pois não consta o nome do pai. Maria do Rosário deveria ser preta ou parda, pois consta que era “liberta pela Lei de 13 de maio”. A data do falecimento é 4 de janeiro de 1889, na capela de Nossa Senhora do Pilar do Padre Gaspar, onde foi sepultado. O escrivão notário do cartório era Pedro Augusto da Costa.







Estes são, portanto, os primeiros registros civis da cidade de Tiradentes, que já somam 126 anos e estão no arquivo do cartório de registro civil e pessoas naturais de Tiradentes – MG.





Texto do Sócio Olinto Rodrigues dos Santos Filho

D. José I faz 300 anos




Estátua Equestre de D. José I, Lisboa.


Este ano de 2014 comemoramos o tricentenário de nascimento do Reio Dom José I de Portugal. Filho de D. João V e de Dona Mariana da Áustria, o príncipe D. José Francisco Antônio Inácio Norberto Agostinho de Bragança nasceu no dia 6 de junho do ano de 1714. Casou-se em 1729 com a princesa Maria Vitória de Bourbon, infanta da Espanha, o que veio selar a paz com país vizinho.

Retrato de D. José I, por Miguel Antônio
 do Amaral, 1773. 


Com a morte de seu pai o rei D. João V, o magnânimo D. José ascendeu ao trono de Portugal, tendo sido coroado no dia 8 de setembro de 1750, em Lisboa, após assumir o trono em 31 de julho do mesmo ano. Logo no início de seu governo nomeou o Conde de Oeiras, depois do Marquês de Pombal, Sebastião José para seu ministro super poderoso, que, na verdade, governou Portugal até a morte do Rei, em 1777. Uma das maiores tragédias do reino português foi o famoso terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, que destruiu a Capital do Reino, inclusive o palácio real, na Ribeira, onde hoje é a Praça do Comércio. Aproveitando o ensejo, o Marquês de Pombal elabora um plano de reconstrução da Baixa Lisboeta dentro dos cânones iluministas e cartesianos, com ruas retas e trançado quadriculado, com rua central e a Praça do Comércio. Todas as construções foram projetadas no mesmo padrão, tanto os sobrados quanto as igrejas pombalinas da baixa. Os sobrados com suas portadas em mármore branco, com pouca decoração nas vergas, contrasta com o rosa e amarelo dos panos de parede. As igrejas seguiam planta padrão, com as faixadas em mármore branco, sem ou com apenas uma torre. Os interiores pombalinos eram severos, ao gosto de um rococó quase clássico, de cunho italianizante. Não havia talha e sim retábulos em mármore ou madeira imitando mármore, ao gosto italiano.

Estátua Equestre de D. José I, Praça do Comércio, Lisboa.

Mas o que nos importa é que, para a reconstrução da baixa lisboeta, o ouro das Minas Gerais abarrotou os cofres reais, sendo portando uma obra financiada com o ouro brasileiro.

Lembramos, hoje, D. José em seu tricentenário porquê, quando se criou a Vila no Arraial Velho no Rio das Mortes, em 19 de janeiro de 1718, por ato do Conde de Assumá e Marquês de Alorna, Dom Pedro de Almeida e Portugal, o nome dado a Vila foi São José del Rei ou São José do Rio das Mortes, como ficou conhecida, em homenagem ao príncipe, então, com cerca de quatro anos de idade. Portanto, Tiradentes, nome adquirido em 1889, teve, de 1718 a 1889, o nome do Rei.


Rua da Câmara, déc. de 50.



Quando da inauguração da Estátua Equestre de Dom José I na Praça de Comércio de Lisboa, obra de Joaquim Machado de Castro, que agitou Lisboa na época, os poetas mineiros Inácio José de Alvarenga Peixoto e José Basílio da Gama*, escreveram obras poéticas laudatórias relacionadas ao evento.


           

Sonetos de Alvarenga Peixoto e de Basílio da Gama distribuídos em volantes no dia da inauguração da estátua de D. José I.






Texto do Sócio Olinto Rodrigues dos Santos Filho

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José Basílio da Gama nasceu em 1740, na antiga Vila de São José, hoje Tiradentes. Morreu em Lisboa em 1795.